Crendeuspai: esse sotaque mineiro junta as palavra tudo

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Crendeuspai! O mineiro tem um sotaque tão característico, com expressões próprias e um jeitim de falar cantando e juntando as palavras, que forma quase um dialeto, mais conhecido como “mineirês”.

A palavra “crendeuspai” é um ótimo exemplo dessa junções, que resultam em novos vocábulos bem típicos do nosso estado, concebendo uma espécie de patrimônio imaterial representativo da nossa cultura e da nossa história.

Mineiros têm fama de serem muito receptivos — e, em geral, fazemos jus a essa fama hospitaleira, de fato — mas nem sempre é fácil compreender a linguagem cheias de gírias regionais e recortes de palavras, o que pode dificultar um tiquim a comunicação. 

Pois fique tranquilo(a) que estamos aqui para ajudar você a desvendar o linguajar mineiro e traduzir algumas das expressões mais comuns no dia a dia dos mineiros — e inusitadas para quem é de fora. Cê fraga?

Sotaque mineiro e a mania de juntar as palavras

Além de “comer quieto”, mineiro come o fim das palavras, abrevia e vai emendando tudo uma na outra.

Oncotô? Oncovô? Ópcevê! Saudadocê! Doidimai! Cadiquê? Prestenção! Quequecêqué? Pondiôns. Cêbesta! Nuh!

Entendeu? Se sim, parabéns: você deve ser fluente em mineirês! Se não, a gente explica:  

  • Onde estou?
  • Para onde vou? 
  • Olha pra você ver! — expressão de surpresa, admiração ou indignação. 
  • Saudade de você! 
  • Doido demais! — algo muito legal. 
  • Por causa de quê? — ou “por que motivo”.
  • Presta atenção! 
  • O que você quer? 
  • Ponto de ônibus. 
  • Algo como “deixa de ser besta” ou para indicar perplexidade diante de algo. 
  • Nossa Senhora, que virou “nossinhora”, depois “noh” e, finalmente, “nuh”! — expressão de espanto ou para frisar a intensidade de algo.

Crendeuspai: da reza ao meme

“Crê (ou creio) em Deus Pai” é uma oração que faz parte da liturgia católica. Fora deste contexto, a expressão “crendeuspai” é utilizada para expressar espanto, agonia, aversão/rejeição ou para repreender algo, gerando diversos memes na internet.

“Crendeuspai! Que frí é esse que tá fazenu?”

“Olha o tamanho desse bicho, crendeuspai!”

“Crendeuspai, quase me mata do coração!”

“Que sapato horroroso, crendeuspai!”

Outra expressão originária da fé católica que acabou ganhando uma conotação diferente na linguagem popular é “benzadeus” (benza, ó Deus). Ela é utilizada para agradecer algo que foi muito difícil de conseguir ou expressar concordância/gratidão por uma situação que começou mal e terminou bem.

“Benzadeus! Minha filha passou no concurso.”

“Depois de tantas brigas, ficou tudo em paz, benzadeus!”

Também pode ser usada como elogio: “Benzadeus, que coisa mais linda essa roseira!”.

As origens do sotaque mineiro

O sotaque mineiro é tão peculiar que já virou até objeto de estudo. O projeto “A Construção de Um Dialeto: A Língua Portuguesa em Minas Gerais” é coordenado por uma professora da UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais), Jânia Martins Quadros, que pesquisa as origens do nosso sotaque. 

Baseando-se em fenômenos linguísticos, ela analisou as influências recebidas em cada região do estado, derivadas de sua posição geográfica: no sul de Minas Gerais, vemos traços do falar paulista; no norte, do baiano. Já na Zona da Mata e das Vertentes, notamos a aproximação com o sotaque fluminense.

Na região central, que engloba, além da região metropolitana de Belo Horizonte, as cidades históricas de Ouro Preto e Mariana, teríamos o que é considerado o mais próximo do “sotaque puro”. Ainda assim, por se tratar de uma capital, recebeu diversos imigrantes ao longo dos anos, que contribuíram para constituir nosso linguajar.

Em sua tese de pós-doutorado, a professora Patrícia Cunha Lacerda, da Universidade Federal de Juiz de Fora, identificou, por meio de documentos históricos, traços do falar dos escravos no sotaque mineiro, como a monotongação — dizer “pexe” em vez de “peixe”, “dinhêro” em vez de “dinheiro”, “rôpa” em vez de “roupa” — e o alteamento da vogal pretônica — como falar “minino” em vez de “menino”.

Existe, ainda, a teoria de que, esse falar rápido e cheio de abreviações é uma herança da Inconfidência Mineira, quando os inconfidentes se comunicavam entre si dessa forma, cortando sílabas e até palavras inteiras, e conversando em um ritmo acelerado para que não fossem compreendidos por infiltrados e espiões. 

Em meados de 2017, na comemoração dos 120 anos da nossa Capital, foi lançado até um Dicionário popular da língua belo-horizontina, distribuído gratuitamente no Aeroporto Internacional Tancredo Neves, para facilitar que os turistas recém-chegados a Belzonte (até o nome da cidade é pronunciado de maneira peculiar por aqui) conseguissem compreender melhor nossos “ah neein”, “arreda” e afins.

Crendeuspai! Muita coisa pra guardar na cabeça, né? Para ficar sempre por dentro desse simpático e cativante universo de mineiridades, acompanhe os posts de nosso blog e também nossas redes sociais!

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